sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A qualidade do serviço público: um problema de comando dos políticos ou um problema de caráter do povo?

Estive pensando nos últimos 3 meses sobre um assunto que grande parte das pessoas aborda constantemente quando a tônica da conversa é malhar o governo ou melhorar de vida, e os políticos se aproveitam e caem em cima fazendo as mesmas promessas em toda propaganda eleitoral: a qualidade do serviço público.

Após 29 anos de uso constante dos serviços públicos, e também de todas as conversas que já tive ao longo da vida sobre a "vantagem" de fazer um concurso público (onde todos chegam a conclusão que se ganhará um bom salário e não se trabalhará quase nada), chego a seguinte conclusão: o problema não é (só) dos políticos.

A qualidade do serviço público também está muito ligada à nossa eterna malandragem. Este problema está incrustado na nossa sociedade, na nossa criação. Como brasileiros, queremos sempre levar vantagem em tudo (assim como a Lei de Gérson), somo criados para ser "malandros" (e por consequência, fazer todos os outros de "otários").

Não estou justificando a eterna falta de material, equipamento, treinamento etc. ou seja, a falta de condições dignas e adequadas para se prestar um serviço (seja ele da saúde, da educação, da segurança etc.). Qualidades essas dignas e adequadas tanto para quem presta o serviço, quanto para quem dele se utiliza.

É muito pior que isso.

Me refiro a falta de vontade de trabalhar de quem passa num concurso público - nem entrarei na discussão sobre peculato ou participação em esquemas ilegais para tirar vantagem através de subornos e propinas.

Acredito que a maioria de nós foi criada ouvindo dos familiares que deveríamos "fazer um concurso público para trabalhar pouco e ter estabilidade na vida, com um salário bom".

Alguém já parou pra pensar o quanto esse "trabalhar pouco" prejudica a vida de todo mundo?

Vamos a um exemplo: a pessoa chega com seu filho pequeno com 40 graus de febre em um hospital. De cara, leva meia hora só pra ser atendido e ter o cadastro realizado. Ai ela aguarda mais 30 ou 40 minutos para realizar uma triagem, para ver qual a real gravidade do seu atendimento. Após aproximadamente 1 hora dentro do hospital, só agora a pessoa entra na fila de demanda dos médicos. Porém, o médico (e talvez o governo) ainda não tive(ram) culpa de nada, até esse momento. Os culpados são funcionários que estão "trabalhando pouco e tendo estabilidade na vida". Depois disso, a pessoa aguarda por mais 20, 30, 40 minutos para ser atendido pelo médico (o que pode ser considerado um tempo normal, já que é necessário dar atenção para todos - a mesma atenção que todos gostariam de receber). Após a consulta pelo médico, se houver a necessidade de fazer algum exame para retornar ao consultório, de cara já se sabe que só retornará à presença do médico daqui a 1 ou 2 horas. O médico verificará os exames e fará a prescrição da medicação - tanto a que será aplicada no hospital, quanto a que será utilizada no decorrer dos dias para a recuperação.

Após uma saga de quase 6 horas dentro de um hospital (ou estou errado nesta estimativa?), a pessoa sai xingando o médico e o governo, como se os dois exclusivamente fossem os únicos culpados pelos outros funcionários não trabalharem. E pior ainda: apesar de toda a raiva direcionada para o ponto errado, muitos saem do hospital querendo fazer concurso público para um dia trabalhar ali e ter aquela mesmo moleza que a séculos prejudica toda a nação...

Acho extremamente válido querermos mudar o país, termos em mente que do jeito que está, está uma merda; acho ótimo querermos o melhor para nós e nossos filhos, porém temos um grande problema social que ninguém toca (ao menos, eu nunca vi ninguém escrever sobre): só nos preocupamos com o futuro nosso e dos nossos filhos, e não com os filhos dos outros. O que fez com que países como E.U.A., França, Japão e Alemanha se tornassem as potências que são hoje foi o fato de se preocuparem com o futuro da população como um todo, e não somente cada um olhando "para o seu umbigo". É uma preocupação geral voltada para as atitudes, ao invés de apenas e somente um discurso muito bonito, porém vago, como o nosso.

Longe de mim criticar quem pensa primeiro em si e sua própria família - até por que eu sou o primeiro a pensar em mim e nos meus filhos, e somente - e tão somente - pensar nos outros.

Porém, ainda assim, me preocupo com as crianças e o futuro do Brasil de maneira geral. Porém o problema é que, generalizando, nós só pensamos nos outros quando algo nos prejudica. Se não "aperta o meu calo", logo não me incomoda, portanto não tenho que me envolver.


Enquanto este pensamento egoísta reinar nos habitantes da terra brasilis, continuaremos na mesma situação. 
Entra governo, saí governo, e nada mudará. Ao governo, cabe dar educação, entretenimento, saúde, segurança e trabalho (listados na ordem alfabética). Aos pais, cabe dar amor, atenção, carinho e...educação. Educação que forma caráter, gente de bem. E não aquela que ensina operações matemáticas e fatos históricos.

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